Compreender o que é dispensa de licitação não é apenas uma questão de curiosidade legal, mas um entendimento crucial para qualquer entidade ou indivíduo que pretenda engajar-se em negócios com o setor público.
Assim, este mecanismo, muitas vezes visto como um atalho burocrático, é na verdade uma ferramenta cuidadosamente desenhada para balancear a eficiência administrativa com a integridade e a transparência nos gastos públicos.
Através deste artigo, vamos desvendar as camadas que compõem a dispensa de licitação, explicando não apenas seu funcionamento, mas também quando e por que ela é aplicada, tudo isso ilustrado através de exemplos práticos que ajudarão a trazer à vida este tema complexo.
O que é dispensa de licitação: um exemplo prático

Imagine a seguinte situação: uma pequena cidade no interior enfrenta uma repentina crise hídrica devido a um longo período de seca. A necessidade urgente de adquirir bombas d’água para garantir o abastecimento da população não pode esperar pelo longo processo de uma licitação tradicional.
Diante disso, é aqui que entra a dispensa de licitação, um procedimento legal que permite ao poder público agir rapidamente em situações críticas ou quando o processo de licitação tradicional se mostra impraticável ou ineficiente do ponto de vista econômico.
Quando a dispensa de licitação é aplicável?

Antes de adentrarmos nas especificidades, é importante compreender que a dispensa de licitação é cercada por rigorosos critérios legais. Ela não é uma carta branca para ações arbitrárias, mas sim um recurso para situações bem definidas pela lei. Algumas das hipóteses mais relevantes incluem:
- Contratações de pequeno valor: para obras e serviços de engenharia com valores até R$100.000,00 e para outros serviços e compras até R$50.000,00.
- Emergências ou calamidades públicas: situações que exigem resposta rápida para prevenir ou mitigar desastres naturais, crises sanitárias, entre outros.
- Único fornecedor: quando um bem ou serviço só pode ser fornecido por uma empresa específica, sem concorrentes no mercado.
- Guerra ou grave perturbação da ordem: casos extremos que exigem medidas imediatas para garantir a segurança nacional ou a ordem pública.
- Intervenção no domínio econômico: ações governamentais específicas que justificam a dispensa, como controle de preços ou políticas de regulação econômica.
- Entre entidades públicas: transferências ou contratações realizadas entre órgãos ou entidades do mesmo ente federativo.
- Pesquisa e desenvolvimento: contratação de instituição nacional sem fins lucrativos para realizar estudos e pesquisas.
Estas são apenas algumas das situações em que a dispensa de licitação se aplica, cada uma desenhada para responder a necessidades específicas e urgentes, garantindo que a administração pública possa atuar de forma eficaz e responsável.
Leis que regem as licitações no Brasil: breve panorama

A dispensa de licitação está embasada em um conjunto de leis e regulamentos que estabelecem seus limites, procedimentos e as situações nas quais pode ser aplicada. Essas leis garantem que, mesmo em casos de dispensa, os princípios da administração pública sejam respeitados. Abaixo, destacamos algumas das principais legislações que regem o tema:
Lei nº 8.666/1993 – Lei das licitações e contratos (revogada)
Historicamente, a Lei nº 8.666/1993 foi o marco regulatório que governou as licitações e contratos no Brasil. Ela detalhava, especialmente no Artigo 24, as circunstâncias sob as quais a licitação poderia ser dispensada, incluindo casos de emergência ou calamidade pública, nos quais a urgência justificava a impossibilidade de realizar o procedimento licitatório regular.
Além disso, a lei também previa dispensa para contratações de pequeno valor, facilitando processos mais rápidos e eficientes na administração pública. Contudo, esta lei foi oficialmente revogada e substituída pela nova legislação, refletindo uma evolução nas práticas e necessidades administrativas.
Lei nº 14.133/2021 – Nova lei de licitações e contratos
A Lei nº 14.133/2021, que substitui integralmente a Lei nº 8.666/1993, traz uma atualização abrangente das normas sobre licitações e contratos administrativos. Este novo marco legal, conhecido como a Nova Lei de Licitações, consolida e moderniza o sistema de licitações no Brasil.
No Artigo 75, a nova lei detalha de forma extensiva as condições em que a licitação é dispensável, ampliando os limites financeiros para dispensas e adaptando o texto legal para incorporar práticas modernas e eficientes. A reformulação tem como objetivo tornar o processo licitatório mais ágil, transparente e alinhado às dinâmicas atuais de contratação pública, garantindo maior eficácia na gestão dos recursos e na execução de políticas públicas.
Lei Complementar nº 123/2006 – Estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte
Essa lei complementar, embora não trate exclusivamente de licitações, possui dispositivos que influenciam diretamente nos processos de dispensa de licitação, especialmente no que diz respeito às contratações de microempresas e empresas de pequeno porte.
Ainda, estabelece tratamento diferenciado e simplificado para essas empresas nos processos licitatórios, incentivando a participação e fomentando o desenvolvimento econômico local.
Decreto nº 9.412/2018
Este decreto atualiza os valores limite para as modalidades de licitação, incluindo a dispensa, e é um complemento essencial para a aplicação prática das leis de licitação. Ele assegura que os limites financeiros estejam ajustados à realidade econômica, permitindo uma aplicação mais justa e eficaz das regras de dispensa.
Benefícios da dispensa de licitação
A dispensa de licitação, enquanto exceção ao processo padrão de contratações públicas, traz consigo um conjunto significativo de benefícios que transcendem a mera economia de tempo e recursos. Essa modalidade de contratação direta é especialmente valiosa em cenários que demandam respostas ágeis por parte do poder público, nas quais a celeridade se faz tão importante quanto a própria ação a ser implementada.
Agilidade nas respostas a emergências
Em situações de emergência ou calamidade pública, como enchentes, terremotos, pandemias ou grandes incêndios, a dispensa de licitação se torna um instrumento crucial na mão dos gestores públicos.
A possibilidade de contratar serviços ou adquirir bens de maneira imediata permite que medidas de resposta e mitigação sejam implementadas com a urgência que o cenário exige, potencialmente salvando vidas, protegendo patrimônios e minimizando danos ambientais.
Eficiência na alocação de recursos
A eficiência na alocação de recursos públicos é outra vantagem importante. Ao evitar o processo licitatório para contratações de menor valor ou em situações específicas legalmente previstas, o poder público pode direcionar seus esforços e investimentos de forma mais assertiva, garantindo que os recursos sejam aplicados onde realmente são necessários, sem os custos administrativos e temporais que uma licitação tradicional envolveria.
Garantia de qualidade e transparência
Contrariamente à percepção de que a dispensa de licitação poderia comprometer a qualidade e a transparência, esse mecanismo, quando aplicado dentro das rigorosas normas que o regulamentam, assegura ambos.
A obrigatoriedade de justificativa detalhada, acompanhada de pesquisa de mercado para comprovação de preços justos e a subsequente publicidade dos atos administrativos conferem à dispensa de licitação um caráter de transparência e de compromisso com a eficiência e a economicidade.
Flexibilidade em contratações
A dispensa de licitação também oferece uma flexibilidade valiosa na escolha de fornecedores ou prestadores de serviços, permitindo que o governo opte por aqueles com capacidade de entrega imediata ou especialização específica para o problema enfrentado. Isso é especialmente relevante em áreas técnicas ou situações que exigem conhecimento e habilidades especializadas.
Promoção da economia Local
Em certos casos, a dispensa de licitação pode promover o desenvolvimento econômico local, permitindo que pequenos fornecedores ou prestadores de serviços locais participem de contratações públicas que, de outra forma, seriam inacessíveis devido à complexidade e aos custos associados aos processos licitatórios tradicionais. Isso incentiva o crescimento econômico local e o fortalecimento das comunidades.
Portanto, a dispensa de licitação não é apenas uma necessidade operacional ou uma conveniência administrativa; ela é uma ferramenta estratégica que, quando empregada corretamente, pode trazer benefícios substanciais para a administração pública, para a sociedade e para a economia como um todo.
Procedimentos para a dispensa de licitação: como fazer?

Embora a dispensa de licitação represente um caminho mais ágil para contratações públicas, não se deve interpretá-la como uma via livre de controles ou desprovida de formalidades. Pelo contrário, o procedimento administrativo envolvido nessa modalidade é cercado por um rigoroso arcabouço legal, destinado a assegurar que cada passo seja dado com a máxima transparência, justiça e eficiência.
Justificação detalhada da necessidade
O primeiro passo no processo de dispensa de licitação é a elaboração de uma justificativa detalhada que explique claramente a necessidade da contratação direta. Este documento deve abordar não apenas o porquê da urgência ou da especificidade da situação, mas também demonstrar por que os métodos tradicionais de licitação não se aplicam ou seriam impraticáveis.
A justificação deve ser robusta o suficiente para resistir a escrutínios e questionamentos futuros, fundamentando-se em critérios objetivos e em conformidade com as disposições legais vigentes.
Pesquisa de mercado rigorosa
Segue-se uma pesquisa de mercado meticulosa, cujo objetivo é determinar o valor de mercado dos bens ou serviços a serem contratados. Essa etapa é crucial para garantir que o poder público não apenas consiga o melhor custo-benefício possível, mas também para assegurar que os preços pagos estejam em linha com os praticados no mercado.
Assim, a pesquisa deve ser ampla, abrangendo diferentes fornecedores ou prestadores de serviços e levando em consideração a qualidade, o tempo de entrega e outros fatores relevantes.
Seleção cuidadosa do fornecedor
A seleção do fornecedor ou prestador de serviços é outro ponto de grande importância, que deve ser feito com cuidado e imparcialidade. Isto é, a escolha deve recair sobre aquele que não só ofereça as melhores condições em termos de preço e qualidade, mas que também demonstre capacidade de cumprir com os requisitos e prazos estipulados. Critérios claros e objetivos devem guiar essa seleção, evitando favoritismos ou escolhas arbitrárias.
Documentação e transparência
Cada etapa do processo, desde a justificativa inicial até a escolha final do fornecedor, deve ser devidamente documentada. Esta documentação não só serve como registro das decisões tomadas, mas também como um meio de garantir a transparência do processo e possibilitar a fiscalização por órgãos de controle interno e externo, bem como pela sociedade.
A disponibilização dessas informações deve ser feita respeitando-se os prazos e as formas previstas em lei, contribuindo para a construção de um ambiente de confiança entre o setor público e os cidadãos.
Além disso, o rigor desses procedimentos reflete o compromisso do poder público com os princípios da administração pública, especialmente legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Mesmo em situações que permitem uma maior flexibilidade, como é o caso da dispensa de licitação, a observância rigorosa dessas etapas é fundamental para assegurar que os interesses públicos sejam protegidos e promovidos de forma adequada.
Como a Flanci pode ajudar na navegação da dispensa de licitação

A Flanci Corretora de Seguros, com sua equipe de profissionais qualificados, está pronta para auxiliar entidades e empresas a navegar por esse processo. Seja através da elaboração de justificativas, realização de pesquisas de mercado, ou qualquer outro suporte necessário, a Flanci assegura que seus clientes possam aproveitar as oportunidades da dispensa de licitação de forma legal, eficiente e transparente.
Neste artigo, exploramos o que é dispensa de licitação, seus critérios, aplicações e a importância de procedimentos controlados e transparentes. A dispensa de licitação, longe de ser uma brecha na lei, é uma ferramenta essencial para a administração pública, permitindo respostas rápidas e eficazes em situações onde a burocracia de um processo licitatório completo seria inviável ou contraproducente.
Com a ajuda da Flanci, sua organização pode navegar com confiança neste aspecto vital da contratação pública.



